sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LAVRAS: CIDADE MORTA - Cristina Couto




                   O que aconteceu contigo, minha pequena cidade, postada às margens do Salgado? Porque tanta tristeza? O que fizeram a ti, ó princesa formosa, mulher banhada com as águas desse Rio que não apenas rega as tuas terras como lava a alma dos teus filhos.
                  Antes tu eras alegre, formosa e viçosa, com teus casarões antigos, tuas casas que, por mais simples que fossem, tinham no alto das janelas a marca registrada dos seus moradores. Agora resta pouco do teu passado glorioso.
                    Não sei com que propósito querem apagar tua história registrada nas paredes, no chão e na paisagem urbana; e teus primeiros sinais de vida.
                 Lembro saudosa das tuas calçadas lotadas de cadeiras na boca da noite, esperando a chega do vento do Aracati; lembro-me das tuas ruas cheias de crianças a correr e a gritar ao vento como se tu fosses surda; lembro-me dos banhos matinais na barragem e dos piqueniques aos domingos no Boqueirão, na Volta e no Gueguéu.
              Onde foram parar as tuas lendas e as tradições seculares? Nada disso acontece mais, e não te reconheço. O que aconteceu a nossa cidade que vivia em eterno movimento? Porque se entristeceu a Velha Princesa do Salgado?
                E porque ninguém faz nada para te tirar dessa agonia, dessa angústia e dessa melancolia que te invade. Cadê tuas crianças nas ruas? E os velhos e divertidos circos que outrora alegravam tuas noites? As quermesses e leilões de São Vicente Ferrer realizados pelo nosso saudoso Padre Alzir?
                  Pobre de ti, torrão querido, que não resistisses ao tempo, ao furor dos teus destruidores, às camadas negras de asfalto com que tentam silenciar a tua liberdade.  Agora que  te cobriram de luto para mostrar a indiferença que nutriam por ti, sei que estás sufocada tentando existir.
                       E tu que eras conhecida pelo nome de Princesa do Salgado, hoje tu és a Cidade Morta de todas as paixões, de todos os fervores, e de todos os sentimentos dos teus filhos que se fizeram poetas para hoje chorar a tua passível destruição.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Ceará Quilombola Que Ninguém Quer Ver - Cristina Couto





                                                                            
          No ano de 2006, quando tive a oportunidade de trabalhar na Vice Prefeitura de Fortaleza, me deparei com um mundo completamente desconhecido: as comunidades negras do Ceará. Uma realidade esquecida pela sociedade, pelas entidades que a representam e por nossos governantes.
        É verdade que no principio do governo do PT, em 2003, uma pequena luz se acendeu no fim do túnel, clareou um raio de esperança no coração dessa raça que tanto contribuiu e contribui para a economia e cultura brasileira, mas não passou de um facho de luz, de relâmpago que vez por outra surge e rapidamente desaparece no horizonte.
       A luta do movimento negro tem sido útil, mas não suficiente para o combate à discriminação racial e a injustiça social da qual seu povo é submetido.
                      O sentimento de injustiça e desconfiança é muito forte dentro de um grupo que historicamente amargou tanto sofrimento através da violência, e poucos são os seus representantes no cenário político nacional.
                      Refiro-me a alguém que possa dar voz e vez àqueles que até hoje continuam calados frente a tanta injustiça e desigualdade social, resquício da “Herança Maldita” que se arrasta por séculos.
               Elaborei, na época, o Projeto Ceará Quilombola, fornecendo subsídios para a construção de caminhos no avanço da luta pelos direitos do povo afrodescendente, com o objetivo de devolver a essa raça a estrutura que lhes foi negada.
              Pesquisando e registando as cinquenta e nove Comunidades em vinte e sete municípios cearenses, a maioria sem o menor conhecimento da sua representatividade e vivendo da agricultura, pude constatar as suas péssimas condições.
               A visita as Comunidades Quilombolas me mostrou que é possível superar desafios e sonhar com vários caminhos, trilhando sem desistir diante das barreiras. Isso me mostrou também o descredito da sua gente, já cansada de tanta exploração, de tantos trabalhos, seminários, congressos que nada resolvem.
  As Comunidades Quilombolas querem e merecem mais, querem descobrir o que restou dos costumes e hábitos antigos, a quem pertence o legado do saber no convívio com a natureza, e quantos são na realidade os seus integrantes, e as suas comunidades espalhadas pelo Ceará.
  O conhecimento da história dos afrodescentes, no Brasil, sugere a formação de uma consciência crítica sobre os problemas e possíveis soluções para a raça negra, com objetivo de devolver a esse povo a alta estima e a sua importância no cenário político, social e cultural do Brasil.
 Os governos precisam elaborar ações conjuntas que orientem, informem e ofereçam facilidades para o processo de desenvolvimento do Movimento e das Comunidades Quilombolas.
   Vamos deixar o blá-blá de lado e partir para o concreto, com uma proposta de trabalho que sirva de elo entre os órgãos competentes, o movimento negro e as comunidades quilombolas, buscando os benefícios sociais, resgatando a cidadania e devolvendo ao povo a identidade perdida.
 Esse resgate histórico será importante para todos os Quilombolas e suas comunidades percebam e conheçam a sua realidade e a sua identidade, e possam se orgulhar da sua negritude.
      O maior patrimônio de um povo é a sua história de luta e de resistência; é a história do seu passado e sofrimento e de conquistas que valem o seu sentimento de libertação.  


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

PADRE CÍCERO É SANTO, SIM SENHOR! Barros Alves*




        Há algum tempo entrevistei Dom Fernando Panico, bispo da diocese do Crato, sobre o processo de reabilitação do Padre Cícero Romão Batista. Indaguei-lhe se conhecia algum santo que não passara pelas formalidades da canonização. Resposta lacônica: “Desconheço”. Não acredito, digo eu. Um bispo tem obrigação de conhecer a história da Igreja. Por agora, quando se tenta remediar uma injustiça inominável cometida contra o Padre Cícero, pela própria Igreja (lembrai-vos do precedente de Santa Joana d’Arc!), e se dá o primeiro passo para a longa caminhada que leva à glória dos altares, urge lembrar que vários nomes hoje inscritos no hagiológio católico-romano não necessitaram do processo canonizatório para merecer a veneração do povo.
        Pra começo de conversa, apóstolos e mártires, os primeiros santos, não foram submetidos à burocracia vaticana. São Jorge é perfeito exemplo de santo não canonizado, mas cultuado pelas populações do Brasil, Portugal, Espanha, Lituânia, Inglaterra, sendo padroeiro desta nação conforme Bula do Papa Bento XIV; e também padroeiro da cidade de Gênova, Itália. São Ludgero, fundador da cidade de Münster, na Alemanha, morreu a 29 de março de 809 “e logo depois foi venerado como santo”. Ao morrer Santa Catarina da Suécia (séc. XIV), “uma multidão imensa a proclamou santa antes mesmo das autoridades eclesiásticas...”Santa Matilde, nasceu em 895 e casou aos 14 anos com Henrique, duque da Saxônia, por força de negócios de Estado. Depois de brilhar pela inteligência e bondade na Corte, abandonou tudo e recolheu-se a um convento. Foi uma “mulher de admirável piedade, exemplo e ideal de rainha cristã”, e sem necessidade do veredito papal, “desde os escritos da época ela vem sendo chamada de santa”.
        São Venceslau, príncipe nascido na Boêmia em 907, adotou o ideal cristão em tenra idade. A inveja invadiu o coração do próprio irmão, Boleslau, que assassinou o jovem rei para assumir o trono. Antes Venceslau teve oportunidade de matar o irmão, mas não o fez, “porque a mão de um servo de Deus não deve manchar-se com um fratricídio”. Ao morrer surgiu uma imensa devoção popular a Venceslau, “graças aos prodígios que se operavam em seu túmulo de mártir, logo venerado como santo, o primeiro entre os povos eslavos”.  De igual modo, Santa Gertrudes, morta em 17 de novembro de 1301, “embora nunca tenha sido oficialmente canonizada, desde 1738 sua festa litúrgica é celebrada em toda a Igreja”. Ela é a padroeira das índias Ocidentais.
Ora, é certo que para a hierarquia da Igreja faz-se necessário o processo de canonização, precedido do de beatificação. Formalidade que o povo dispensa. Na prática Meu Padim Ciço já está em todos os lares dos sertões nordestinos, nos oratórios, nos altares, nas lapelas, nos rosários.
Melhor ainda, no imaginário místico do povo ele está ao lado do próprio Cristo, como se fosse uma das três pessoas da Santíssima Trindade, como cantou em sua santa ingenuidade o poeta popular.
Heresia? Que o digam os doutores da Igreja, o que não faz nenhuma diferença para o homem sofrido das caatingas, o qual não dá a menor atenção para filigranas teológicas. O que interessa a ele são os milagres que Meu Padim tem feito no cotidiano de sua existência: é a bicheira do animal que Meu Padim curou; é o parto da mulher que não fez pré-natal por omissão do governo, mas na hora da natividade dá tudo certo com a bênção de Meu Padim; é a doença do filho que se cura com a bênção dele; é o pão frugal de cada dia na  mesa rústica, que não falta porque Meu Padim ajuda; é a chuva que vem depois de longa estiagem, porque se São José não ouve, Meu Padim Ciço tem as “oiça” bem atentas, posto que mais do que ninguém ele vivenciou as angústias e tormentas do homem do sertão.
Por final, vale dizer que os santos prescindem de devoção e mais ainda da burocracia vaticana, porque são naturalmente santos, quer se queira, quer se não queira. O povo faz seus santos, até porque, como dizia com certa ironia o teólogo e filósofo católico Romano Guardini, “a Igreja é a cruz na qual Cristo foi crucificado, e como não se pode separar o Cristo da sua cruz, a gente tem de viver num estado de permanente insatisfação com a Igreja”.

* Da Academia Cearense de Hagiologia

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lavrenses Ilustres - Cristina Couto


                                   

             Desde sua origem, Lavras da Mangabeira foi uma pequena cidade de grandes homens e mulheres que levaram o nome da Princesa do Salgado a terras mais distantes, ficando, assim, famosa e conhecida como “celeiro de intelectuais”.
             Essa característica emprestou à nossa terra projeção e magnitude. Lavras do nosso tempo, contudo, não acompanhou o ritmo dos seus filhos ilustres; infelizmente, nosso torrão perdeu o bonde da história.
              No afã de colocar Lavras da Mangabeira outra vez nos trilhos da intelectualidade, e nos trilhos da sua tradição, registra no seu livro – Lavrenses Ilustres – os nomes dos seus nobres conterrâneos, biografando, inclusive, aqueles que perderam sua identificação com o lugar em que nasceram.
             Em Lavrenses Ilustres (Fortaleza, Editora RDS, 2012), Dimas apresenta-nos as biografias de conterrâneos que, assim como ele, nasceram na velha Princesa do Salgado, o rio que não só fertilizou o solo lavrense, mas as mentes e os corações dos seus rebentos ilustres.
            Com a sua rara capacidade de congregar os filhos da nossa tão amada Lavras, lança-nos o autor um desafio: em lugar de segregar ou diferenciar uns em relação aos outros, ele trata de valorizar o talento de cada com sua capacidade de exercê-lo.
            Sensível e brilhante, como de hábito, Dimas faz desse seu livro Lavrenses Ilustres um marco de dois sentimentos: o amor incondicional à sua terra natal e o revigoramento dos seus conterrâneos esquecidos, ou mesmo desconhecidos pelos próprios lavrenses.
            Critico literário, poeta, jurista, ensaísta, historiador e professor da Universidade Federal do Ceará, Dimas é autor de diversos livros publicados, dentre os quais se destacam: A Distância de Todas as Coisas; A Metáfora do Sol; Sintaxe do Desejo; Política e Constituição; e A Brisa do Salgado, sendo ente último uma verdadeira declaração de amor a Lavras.
             Obrigada, querido amigo Dimas, por seres o que és: um autêntico lavrense, filho de seu Zito Lobo e da corajosa Dona Eliete Macedo; e por trazeres à Princesa do Salgado este brado de alerta vigoroso e político, reavivando os sentimentos lavrenses e nos devolvendo a memória de um povo, que talvez tenha perdido, mesmo, as suas referências.






sábado, 3 de novembro de 2012

As Mulheres de Chico Buarque - Cristina Couto





    Cantar no feminino parece ser o traço poético preferido de Chico Buarque, mas o mais evidente está mesmo à flor da pele. Poucos souberam traduzir os sentimentos mais profundos da alma feminina como ele. Nos últimos tempos não apareceu ninguém, nem mesmo as mulheres, com tanta habilidade para expressar em palavras o que mexe com a nossa alma.
           A relação de Chico Buarque com o feminino não se realiza somente quando a mulher assume o sujeito do discurso, mas também naqueles momentos em que falam dos sentimentos, das ações e reações próprias do jeito feminino de ser.
          São muitas as mulheres de Holanda, como muitos, são os seus sentimentos e personalidades. Assim, são as Mulheres de Atenas, submissas, que “despem-se pros seus maridos, bravos guerreiros de Atenas”. A mulher carente de Atrás da Porta que se aranha, se agarra e se arrasta aos pés do homem amado e acaba abandonada num tapete atrás da porta.
           Ou a prostituta Ana de Amsterdã, que cruza o oceano na esperança de casar, faz mil bocas pra Solano e foi beijada por Gaspar, e acaba sendo amante da Lésbica Bárbara, que vaga pela noite desesperada e nua e vive uma paixão vadia, maravilhosa e transbordante feito uma hemorragia.
            A mulher leviana de Folhetim, que se contenta com uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema e um botequim, ou a mulher de Sob Medida, que é traiçoeira e vulgar, não tem nome e nem lar, que é bandida e solta na vida, mas sob medida pros carinhos teus. A sensual de O Meu Amor, que deixa a mulher amada maluca quando lhe roça a nuca e quase lhe machuca com a barba mal feita.
          Ou ainda a mulher apaixonada de Tatuagem, que quer ficar impregnada no corpo do seu homem e se perpetuar como escrava que ele pega, esfrega, nega, mas não lava. A independente de Olhos Nos Olhos, que aprendeu a viver sozinha e até sentir que sem ele passa bem demais e acaba descobrindo outros amores e outros prazeres.
           O encontro de Chico Buarque com a alma feminina gerou canções com feição de poesia, uma verdadeira comunhão de beleza e de revelação que só a alma sensível do poeta pode despontar.  

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

UMA HOMENAGEM AO JUMENTO, HERÓI DO SERTÃO - Barros Alves




1.
Vou-lhes falar do jumento
Que não é um bicho à toa,
É igual a gente boa,
Sofre tudo sem lamento.
E é tanto o seu sofrimento
Que já mereceu canção
Cantada por Gonzagão:
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão

2.
O jumento é bicho santo,
Carrega no lombo a cruz
E já carregou Jesus
Da Judeia pra outro canto.
O que causa mais espanto
É ver tanto mansidão...
Sem precisar de sermão
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

3.
Todo o sertanejo tem
Pra servir-lhe, um bom jumento,
Pode até ter mais de um cento
Se for sujeito de bem.
Perde o tempo é quem não tem
Um jumentinho chotão
Pra andar pelo sertão...
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

4.
Afirmo e não há quem negue
Que o jumento é ser sagrado
E eu fico mui revoltado
Se alguém trata mal um jegue,
Ainda que eu não o pegue
Fazendo a judiação.
Se eu pegar corto-lhe a mão,
Pois o padre já falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

5.
Ao fugirem pro Egito,
Jesus, Maria e José
Não quiseram ir a pé
E, segundo está escrito
No Evangelho bendito,
Um jumentinho tungão
Foi quem os levou, e então,
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

6.
O jumentinho conduz
Toda a família sagrada
E nele já está gravada, -
No lombo do jegue -, a cruz.
Pois o Menino Jesus
Era um moleque mijão,
Mijou no jegue tungão,
Por isso o padre falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

7.
Ter jumento é uma pechincha,
Hoje o bicho tá barato,
Não é um animal chato,
Aqui, acolá esguincha...
Quando o jumento relincha
Seu relincho é oração,
Ecoa pelo sertão
O padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

8.
O dono bota-lhe a carga
Mesmo o bichinho cansado,
Ele fica ajoelhado,
Passam-lhe a “sia” na ilharga.
Vive uma existência amarga
Sofrendo que só o cão,
E por essa provação
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

9.
Dorme em pé e não se deita,
Nunca parece cansado,
Com ar despreocupado,
Tudo o que lhe dão, aceita.
De nada o jegue suspeita,
Come tudo o que lhe dão,
E naquela lentidão
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

10.
Dispõe de pouca beleza
Quando é bem gordo e sadio,
Porém em tempo de estio
Falta-lhe ânimo e destreza,
Mas a sua natureza
Não lhe permite inação
E o bicho não pára, não.
Por isso o padre falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

11.
É discreto e obediente,
O que gente manda, faz.
Não gosta de andar pra trás,
Só anda reto, pra frente.
É teimoso e persistente
Por isso o chamam tungão,
Um apelido malsão...
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

12.
Erra aquele que nos diz
Que o jumento não tem siso,
Ele é bem bom do juízo,
Até inverno prediz,
Profeta porque Deus quis,
Faz ele adivinhação,
Prevê chuva no sertão...
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

13
O Jumento é um cargueiro
E também é montaria,
Levou a Virgem Maria,
Também levou cangaceiro,
Salvou muito bandoleiro
Do bando de Lampião
Que lhe tinha gratidão.
Por isso o padre falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

14.
Hoje está abandonado,
Mas foi de muita valia.
Ainda tem serventia
Para o homem do roçado,
Ele foi abençoado
Por Padim Ciço Romão
Que lhe deu sua benção.
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

15.
Até parece que é
Igualzinho um ser humano,
Por isso ele é nosso mano
Sendo um animal de fé.
Quando vou rezar na sé
E faço a minha oração,
Peço a São Pedro e a São João,
Pois como o padre falou
E Gonzaga confirmou
O jumento é nosso irmão.

16.
O jumento já foi tema
De canção e poesia
E a minha neta Sofia
Gosta de ouvir o poema
De uma beleza extrema
Cantado por Gonzagão,
Que causa tanta emoção...
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

17.
O relinchar do jumento
É um canto de sereia,
Mão lhe dão mesmo é peia,
Maus tratos e sofrimento.
Ô povo ruim e nojento,
Povo de mau coração!
São é parente do cão!
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

18.
Se há alguma pessoa
Que tem pouca inteligência
Ou que tem certa demência,
Chamam de jumento à toa,
Porém não é uma boa,
Nem tem qualquer precisão
Cometer tal agressão,
Pois como o padre falou
E Gonzaga confirmou
O jumento é nosso irmão.

19.
O cachorro morde e late,
Mas o jumento, infeliz,
Nunca, jamais se maldiz
Nem dá coice em quem lhe bate
Inda que alguém o maltrate
Ele concede o perdão,
Mas Deus não perdoa, não,
Pois o padre já falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

20.
O jumento jamais falha,
Está sempre a labutar,
Vive para trabalhar,
Só trabalha, só trabalha...
Pra manter esta canalha
Vive sob exploração
E quase nada lhe dão.
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

21.
Jumentos não são humanos,
Mas se parecem com gente,
Vamos fazer uma Frente
De parlamentarianos
Pros DIREITOS JUMENTANOS
Defender com decisão
Dizendo a toda a nação:
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.



22.
Vamos ao CNJ
Pra defender nossos planos,
Os DIREITOS JUMENTANOS
Merecem ter boa nota.
Vamos dar a nossa cota
E numa grande união
Buscar uma solução,
Pois como o padre falou
E Gonzaga confirmou,
O jumento é nosso irmão.

23.
No Congresso Nacional
Não pode haver desenganos,
Os DIREITOS JUMENTANOS
É norma fundamental
E o Supremo Tribunal
Guarda a Constituição
Dando a legalização
Conforme o padre falou
E Gonzaga confirmou,
O jumento é nosso irmão.

24.
O Ministro Ayres de Brito
Vai fazer com eloquência
Sobre  a JURISJUMÊNCIA
Um poema bem bonito
E divulgar por escrito
A grande proclamação
Endereçada à nação:
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

25.
Sem sentimentos profanos
Este momento é fatal,
Pois é Direito Real
Os DIREITOS JUMENTANOS.
Mais que os direitos humanos
De vagabundo e ladrão,
É feita a constatação:
Padre Vieira falou
E Gonzaga confirmou
Que o jumento é nosso irmão.

26.
Bastam esses desrespeitos
Aos pobres dos animais.
Rasgam diplomas legais,
Respeitam não, seus direitos;
Outros lhes botam defeitos
Sem dó, comiseração,
Até pauladas lhes dão.
Lhes digo com emoção:
Vejam que o padre falou
E Gonzaga confirmou:
Sim, o jegue é nosso irmão!