Preservar, tombar e reconstruir
a memória do patrimônio arquitetônico de Lavras da Mangabeira são ações conexas
à vontade de construção de uma identidade municipal, estadual e nacional que
surgiu entre os intelectuais e a cidadania lavrenses, no ano 2000, embora com
focos e resultados distintos.
A preservação visava não apenas a
conhecer e identificar o nosso patrimônio, mas também a implementar ações com
vistas a impedir que esse patrimônio desaparecesse ou fosse descaracterizado.
Preservar significava não apenas o
ato de conhecer, mas a intenção de pôr em ação medidas concretas, visando a manter
a integridade da nossa memória coletiva, de maneira a conservar e perenizar os
testemunhos do passado.
O impulso de preservação não
nasceu apenas porque as obras eram antigas e urgia conservá-las para que não se
perdessem, mas igualmente por seu valor e seu lugar relativo no contexto de uma
perspectiva mais ampla: a da reinvenção da identidade de um povo, servindo de
apoio e suporte para confirmar e informar as bases de seus mitos.
Com essa expectativa, as obras
não seriam preservadas apenas por si mesmas, mas também por serem signos de
outras coisas; não basta que essas obras falem do passado, mas possam
testemunhar a favor de uma construção conceitual do presente, fazendo sentido
dentro de um discurso essencialmente contemporâneo.
Por isso, algumas vezes convêm reverter seu estado ruinoso, recuperando
ou revivendo aquele sempre glorioso passado – mesmo que para isso se faça necessário
inventá-lo sempre pensando na sua projeção para o futuro.
Mais do que um ato de conservação
passiva, a preservação nasce atrelada a uma atitude de projeto, de vontade de
construir um futuro que se deseja. E como em qualquer projeto, sua
concretização não envolverá apenas decisões objetivas ou técnicas, mas estará
sempre e inevitavelmente permeada por decisões subjetivas.
Por último, mas não menos
importante, para que a preservação se concretize e seja permanente, é preciso
que aos testemunhos do passado se atribua algum valor de uso no presente, até
para que o esforço de conservação não se perca, assegurando à obra preservada
os meios adequados para sua gestão e permanência.
Preservar o patrimônio é contar
a nossa história, é criar uma cultura própria do nosso povo, construindo uma
identidade local que não só ajudará a construir a história de Lavras da
Mangabeira, como ajudará na construção da história do Ceará e do Brasil.