Senhoras e
Senhores, boa tarde.
Jorge Emicles, a quem carinhosamente o chamamos de Jorgito,
sempre sonhou em ser escritor. Desde cedo buscou o conhecimento, investiu nos
estudos e sempre levou a sério sua carreira profissional, investimento feito, sucesso
garantido. Realmente, nosso jovem alcançou altos postos e altos cargos atitudes
nada convencional para os jovens da sua época.
Escrever sua história de vida é sempre gratificante,
principalmente quando somos bem sucedidos nos nossos projetos de vida. Mas,
escrever sua história a partir da experiência com a morte anunciada, quando se
está convivendo com essa possibilidade diariamente, não é nada fácil, pois bem,
este livro foi escrito a partir da experiência do nosso jovem escritor e,
profissional bem sucedido que ante da notícia da sua morte descobriu que era
covarde demais para morrer e medroso demais para viver.
Diante de tal realidade deparou-se com uma vivencia repleta
de valores, conhecimentos e conceitos, e viu que para enfrentar a realidade
precisava esvaziar-se de tudo, descobriu também, que não seriam os medicamentos
que lhe devolveria o vigor da vida, mas a renovação mental, era preciso
alcançar o equilíbrio. Ele não tinha
muitas escolhas agora era mudar ou morrer, ou, mudar para viver. E como viver?
E como morrer? Porque viver não era mais
uma questão de tempo de existência, mas da qualidade dela. E como esvaziar-se
de valores tão enraizados no seu ser? Na
realidade o esvaziamento não era livrar-se de tudo, mas duvidar deles, fazer uma
verdadeira varredura, vendo o que realmente lhe servia e o que poderia ser
jogado fora pela sua inutilidade. Ele precisava mesmo era de uma renovação, e
somente através da negação e da contradição ele conseguiria construir um novo
homem, um novo ser. Era morrer para ressuscitar, não a morte física do homem,
era morrer o velho para renascer o novo.
Numa viagem pelo seu interior pode vislumbrar todos os
lugares percorridos, todas as experiências vividas e todas as lições aprendidas.
Delas a mais fascinante foi o poder, mas, o poder de transformar as coisas, de
cria-las. O verdadeiro Poder do
Criador. Não que ele não tenha
experimentado o outro lado do poder, o poder mundano, aquele que causa guerras e
destrói, que nos cegam e nos corrompem, aquele que se repete a séculos, fugindo
da realidade numa sucessiva capacidade de ludibriar as massas para alcançar seu
objetivo. Jorgito teve a oportunidade de
experimentar os dois e de vencer sua tentação imunizando-se dos tenebrosos
venenos palacianos e pondo a prova seu espirito superior. Percebeu que o tempo não existe, mas era
preciso transpô-lo, que a vida se resume em símbolos, e que seus verdadeiros
inimigos foram aqueles que lhe abraçaram, entendeu que o monologo com a morte o
livrou de um fim iminente. Teve a certeza que as coisas são efetivamente como
são, não, como pretendamos que sejam.
A partir da tenebrosa experiência novos métodos de vida foram
surgindo, mas pode ver, também, que a sabedoria antes adquirida não era
suficiente para bem vivê-la. E que esvaziar completamente seu ser, renegando
valores e coisas era impossível, pois a essência do ser deve ser preservada, porque na realidade
ela é nosso ser mesmo, apenas, despidos de todos os conceitos, valores e
alegorias que diariamente usamos como disfarce social.
Enfrentar a realidade do
diagnostico, a frieza técnica dos profissionais da medicina, a enganosa publicidade
e a corrupção do Sistema Único de Saúde lhe encheu de revolta, embora tenha
sido beneficiado viu que muitos pagaram com a própria vida este processo de
anomia social. Agora ele estava sozinho e vivendo um mundo completamente
diferente daquele que viverá desde a sua mais branda infância.
Para continuar vivendo teve que enfrentar a morte, enfrentar
a sociedade e enfrentar a si mesmo numa verdadeira e solitária viagem na busca
de um novo ser, livre de tudo, de todas as correntes e amarras que até então
estavam presas ao seu calcanhar, escravizando e matando seu corpo para depois
possuir sua alma, e num corajoso grito de liberdade pode livrar de tudo e nascer
de novo. Numa verdadeira metamorfose da vida, sempre, na busca de ser feliz, onde
a dor e a mutação se encontram num abraço de êxtase.
Boa leitura e muito obrigada.