DIDEUS SALES




O REI DO BAIÃO CANTADO EM CORDEL.


Em Exu, que pouco chove,
No Pernambuco, nasceu
Esse gênio que morreu
Em um, nove, oito, nove.
A gente inda se comove
Ao falar da expressão
Maior do nosso baião,
Ritmo de grande beleza,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

02 de agosto agourento
Infeliz notícia trouxe,
Luiz Gonzaga calou-se
E o rosto do firmamento
Cobriu-se com véu cinzento
Em condolência ao sertão
E as lágrimas da multidão
Desciam em correnteza,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Cantou a seca, o inverno,
O povo, a fauna e a flora
E há 22 anos mora
Ao lado do Pai Eterno,
Compondo baião moderno
Com um vate de inspiração,
Patativa, que seu chão,
Também cantou com grandeza,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Quando Gonzaga morreu
O Brasil todo chorou,
A asa branca calou,
O assum emudeceu,
Não gorjeou o sofreu,
Não pipilou o cancão,
Nem mais cantaram o carão,
O tetéu e a burguesa,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Tinha o gogó afinado
Cantando canção agreste,
Alegrou nosso Nordeste
Deixando o povo animado,
Dizia-se abençoado
Por Padre Cícero Romão,
Sorveu, de Frei Damião,
Lições de amor à pobreza,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Fina musicalidade,
Belo canto absoluto,
O jeitão típico matuto
Com muita espontaneidade,
Sua escolaridade
Foi apenas a lição
Do professor – o sertão,
A escola – a natureza,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Sua cantoria altiva,
Servira nos de escola
Com Janduhy Finizola
Compondo música expressiva,
Nosso grande Patativa
E Catulo da Paixão,
Que seu Luar do Sertão
É o hino da natureza,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Lamentou a despedida,
Enalteceu o vaqueiro
Nas cantigas Boiadeiro
E grande Triste Partida,
Foi um exemplo de vida
Para sua geração,
Sua vida uma lição,
Sua morte uma surpresa,
O sertão chora a tristeza
Da morte do Gonzagão.

Nosso torrão nordestino
Cantou em suas canções
Em belas composições
De Humberto, Zé Clementino,
Zé Dantas, Zé Marcolino
E Onildo, da verve franca,
Gonzaga, teu canto arranca
A tristeza do matuto!
Não nasceu substituto
Pro cantor da Asa Branca.


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