Já faz três noites
Que pro norte relampeia A asa branca
Ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas
E voltou pro meu sertão
Ai, ai eu vou me embora
Vou cuidar da prantação.
Hoje
Luiz Gonzaga está de volta pro sertão, não mais pra cuidar de sua prantação.
Desta vez, em plena seca, ele voltou para comemorar seu centenário, voltou o
filho de Januário, o filho mais ilustre de Exu, não mais o homem, voltou a
lenda, o mito. Aquele que levou e elevou o nome e a cultura do Nordeste ao
mundo.
Em Exu não tem mais Asa
Branca, ela bateu asas do Sertão, não tem mais o véi Jacó que defendia com
unhas e dentes os oito baixos de Januário, inconscientemente, defendendo a
cultura local, temendo a interferência de outras culturas no seu sertão.
Aqueles velhos e
inocentes costumes se extinguiram com o tempo, com a internacionalização da
cultura e do capital. As Samaricas Parteiras não existem mais, o velho ofício
foi substituído por profissionais da área de saúde. Talvez em homenagem a tanto
trabalho e a tantos filhos ilustres que essas senhoras ajudaram “vir ao mundo”,
o Estado de Pernambuco tombou tal arte como bem imaterial dos pernambucanos.
Gonzagão agora refaz a
sua Légua Tirana, não precisa mais criar asas pra voltar pro seu sertão e ver
sua Ana. Ele volta em luz e em espirito, volta grande e em grande estilo.
Realmente, criou asas, asas de anjos e de Vida Eterna.