Aos colegas, homens e mulheres, da novel “Confraria do
Peba”:
Quero, nesta oportunidade, enviar
meus parabéns ao Dimas Macedo que teve a iniciativa de instituir a “Confraria
do Peba”. Logo no dia de sua fundação, 14/09/2012, assumi participação e sou um
dos fundadores da novel organização do bem. A ecologia é o que se fala
hodiernamente, mas, na Fazenda Lages de meus pais, no interior cearense, nos anos
30 e 40 do Século XX, e tenho na lembrança, meu pai, Thomaz De Lemos,
preservava pequena mata ao lado do açude. Sem grandes instruções, ele tinha
consciência da necessidade da preservação do meio ambiente. Também minha mãe,
Ana Izabel, plantava árvores frutíferas e cultivava flores. Eles estavam à
frente de seu tempo, pois, inclusive, cuidaram em trazer para a Fazenda Lages
mestre para ensinar a seus filhos, filhos dos moradores e dos vizinhos. E até
minhas irmãs (avanço para época) estudavam. A Confraria do Peba espera reunir
pessoas que tenham a consciência de que o mundo nos pertence. Deus criou o
mundo – celestial e material – e o homem pode (e deve), com respeito e atitude
quase religiosa, cuidar bem daquilo que Deus criou. O homem pode tirar algo da Primeira
Matéria, da Matéria Prima Original, mas deve fazê-lo com absoluta consciente de
que tira esse algo daquilo que foi criado. Li, não sei onde, que é pobreza
fazer as coisas iguais. O homem, por exemplo, só é igual a si mesmo. Eu não
quero discutir, por exemplo, a questão de Fé, mas, estou certo de que todo
homem e toda mulher, cada um professa alguma Fé, em alguma coisa. Privei da
amizade do Dr. Josué de Castro, médico e cientista da Geografia da Fome, obra
que não perdeu sua atualidade, e observei que ele, apesar de todas as
dificuldades que se opunham à sua obra, não perdeu a Fé. E ai está o seu trabalho
oferecendo bons frutos e, recentemente, a Revista “Nordeste Vinte e Um”
expressou essa minha convicção. Eu próprio concedi entrevista que o periódico
publicou (Edição 25, Agosto de 2011, p. 8/16). Li, com entusiasmo, seu livro em
1954, depois de 8 anos de sua publicação
(fora publicado em 1946) e agora, 2012, depois de 66 anos (1946-2012) continua
atualizado. Acho que ele, Dr. Josué de Castro, “botou fé” em sua obra. E, do
ponto de vista da preservação da vida, é uma obra a ser consultada sempre. João
Gonçalves de Lemos. Em 19 de setembro de 2012.
A seguir textos de meus irmãos – Manoel, Francisco Franço e Francisco
das Chagas – e meu próprio:
(1)- TERREIRO DA CASA GRANDE (apenas
pequeno trecho do texto), autoria do mano Manoel Gonçalves de Lemos (médico e
poeta):
“A noite já vai alta! Paira um silêncio esquisito sobre
centenas de seres, símbolo da mansidão cristã que, deitados e em pé, atapetam
grande área, alva de luar, em frente ao grande Solar. É o rebanho de gado
“ovelhum” do dono da Casa”. (Folhas Esparsas, 1993, p. 19).
(2)- ENGENHO LAGES (apenas algumas sextilhas), autoria do
mano Francisco Franço De Lemos:
“No Parol beber garapa/Na gamela comer rapa/Em casa mel com
pão/Ao redor da gamela/Uma batida com canela/Era grande a animação”.
“No engenho o boi Bonito/O boeiro dando grito/Em Canário e
namorado/Veludo e boi Rapé/Moreno, Azulão e Café/Tauá, Primor e Veado”
“O alpendre cheio de pilão/Em grande animação/Muitas pessoas
pilando/Calmo sem confusão/Na presença do patrão/Os jovens se namorando”
“Saudade tenho dos caminhos/Do canto dos passarinhos/De toda
infância minha/De um papagaio querido/Por todos nós conhecido/Que se chamava
Rosinha”
“Falo do Engenho de Lages/Também falo das moagens/Do arroz,
milho e feijão/Do engenho a bolandeira/Da fornalha e bagaceira/Das coisas boas
do sertão”. “Sonho de um Poeta, 2001, p. 146).
(3)- IMPROVISO (O mano Francisco
das Chagas De Lemos. Ele sofrera um acidente de Trem, entre Fortaleza e Lavras,
e suportou longo tempo num hospital de Fortaleza. Ao regressar a São José, um
amigo o cumprimenta e diz: “Chagas, você escapou fedendo”. Ele, então, de
Improviso respondeu... - Consta no Livro “Sonho de um Poeta” de Franço De
Lemos):
“Gente que o viver/Cheio de sofrimentos/Mas
diz a todo momento/É melhor do que morrer/Eu também posso dizer/Que já fui
quase finado/E escapei todo quebrado/Mas ainda estou vivendo/É melhor escapar
fedendo/Do que morrer perfumado”.
(4)- O CAVALO BRANCO – Texto publicado
originalmente no jornal “O Catolé” e, agora, consta do livro -
“CONVERGENCIAS... - já em fase de publicação e que reúne outros escritos
esparsos do autor – João Gonçalves de Lemos - apenas um trecho do texto.
Trata-se do Cavalo de Sela de meu pai, Thomaz Gonçalves de Lemos:
“Cavalo branco, com leves pintas
escuras quase imperceptíveis. Chamavam-no de ‘Bicicleta’, devido ao seu andar deslizante pelas estradas. As
crinas deitavam-lhe ao longo do pescoço, fazendo movimentos ondulados ao sabor
do vento.
Um belo animal! Os arreios
enfeitavam-lhe ainda mais a beleza. Seu passo ritmado causava admiração a
todos.
- Eta cavalo baixeiro!
Manso, inquietava-se, porém,
quando alguém pegava-lhe as rédeas ou no estribo para montar. Não se sabe como
distinguia, comumente, os cavaleiros.
Para pôr o animal em marcha, dava-lhe nas rédeas e
batia-se-lhe levemente com o rebenque. E o cavalo saía numa andadura
fantástica, levantando simultaneamente
pé e mão de um só lado.
Bonito espetáculo, o andar
leve do Cavalo branco. Ficávamos de
olhos grudados nele, acompanhando o seu
desempenho excepcional até se perder na curva
da estrada.
Exclusivo de meu pai, raras vezes
montado por outro. Ninguém jamais montou nele
em osso. Na ida para o pasto ou na vinda para nova viagem, levado para
beber no Açude ou para o banho, era sempre puxado pelo cabresto, no passo do
tratador.
Irmãos de numerosa família havíamos deixado de lado o
cavalo-de-pau, feito da folha de carnaúba para montar cavalos de verdade. E
quem não gostaria de um dessa fama? Quem dispensaria tal privilégio?”.
DOM HELDER PESSOA
CÂMARA
É-me oportuno trazer às páginas da “Confraria do Peba” uma
figura humana que dispensa apresentação. Estou certo que, se ainda estivesse
entre nós, digo fisicamente, pois tem sido nome de grandeza
curricular que muito honra o Brasil, ontem com sua presença inconfundível e
hoje com suas obras de grande destaque.
Refiro-me à figura
instituidora da CNBB e que marcou sua participação, de modo brilhante, como
fizera em outras ações em beneficio das pessoas e principalmente das pobres, o
fazendo em nome da Igreja a que amou profundamente.
Nesta escritura refiro-me ao bispo
dos pobres, Dom Helder Pessoa Câmara cuja atividade política, social e
religiosa o mundo inteiro conheceu. E, em relação à Academia de Ciências
Sociais do Ceará – ACSC prestigiou com seu nome entre os três sócios honorários
fundadores, em 1988, depois, por escolha da acadêmica Doutora Lucili Grangeiro
Cortez, patrono da Cadeira 33 da Arcádia.
Em 1999, por proposta do
acadêmico Geraldo da Silva Nobre, de saudosa memória, o plenário da ACSC
aprovou, por unanimidade, homenagem ao grande bispo, tendo Monsenhor Francisco
Manfredo Tomás Ramos, em nome do Seminário da Prainha, se associado à justa
homenagem. Ano em que o prelado completou 90 anos de vida, a sessão solene teve
lugar no Auditório do Seminário da Prainha, centenária Casa em que, como disse Mons. Manfredo em seu
brilhante pronunciamento, entre muitas
outras bonitas e ajustadas palavras ao homenageado, se sentia “possuído de um
santo orgulho, pois foi aqui, entre estas vetustas paredes, por salas,
corredores e pátios, e, sobretudo, no recesso sagrado do santuário da Virgem
Imaculada do Outeiro da Prainha, que Helder foi educado e ungido presbítero e
sua personalidade de escol foi em boa parte forjada e burilada”.
À solene sessão conjunta –
ACSC/Seminário da Prainha – acorreu muita gente - sociedade de Fortaleza,
irmãos no sacerdócio do homenageado e povo em geral – e o Mons. Manfredo,
visivelmente emocionado, explica aos presentes quão difícil “a tarefa de
escolher, entre tantos aspectos e
ângulos diversos, o de que se reveste e a partir dos quais pode ser olhada a
trajetória multifacetada da existência de Dom Helder, o que propor a atenção de
vossas senhorias”.
Por iniciativa, agora, do presidente
e do secretário da ACSC, apoiado por seus pares, foi dado inicio a uma série
denominada “Galeria de Personagens” e o numero 01 da referida publicação elegeu
Dom Helder para inaugurá-la. É um opúsculo somente, mas, nele, a participação
dos seguintes amigos de Dom Helder: João Gonçalves de Lemos, Mons. Francisco
Manfredo Tomás Ramos, João Alfredo de Sousa Montenegro, Pedro Bezerra de
Araújo, Ilailson Silveira Araújo, Francisco Tarciso Leite, Francisco Adegildo
Férrer e José Teodoro Soares.
Além dessas participações, a
obra registra “frases de um profeta”, posse de Dom Helder como sócio honorário
da ACSC, produção intelectual do homenageado, sem exaurir, e fotos do ilustre
prelado.
A obra foi lançada em Lisboa,
por ocasião de nossa presença em Portugal em maio do corrente ano, numa reunião
internacional da ACSC que tenho a honra de presidi-la, com a participação das
seguintes instituições portuguesas: Assembléia da República, Sociedade de
Geografia de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da
Universidade de Lisboa e Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII.
João Gonçalves de Lemos - Fortaleza – Ceará – setembro de 2012.
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