Quando
o sol calcinou a terra e asa branca bateu asas e voou, Luiz Gonzaga, filho de
Januário e Santana, enfrentou a légua tirana em cima de um pau de arara,
levando dentro do seu matulão um triângulo, um gonguê, um zabumba e, em sua
memória, a rica cultura nordestina.
Sentiu-se
um peixe e fez uma grande viagem imaginária pelo Riacho do Navio, correu pro
Pajeú e acabou sendo despejado no São Francisco que desembocou no meio do mar.
E num desejo de regresso aos rios nordestinos fez o caminho inverso, nadou
contra as águas e nesse grande desafio saiu, outra vez, direitinho no Riacho do
Navio para desfrutar dos costumes simples e prazerosos do sertão.
Para rever o seu brejinho, fazer umas caçadas,
ver as pegas de boi e andar na vaquejada, mais uma vez dormiu ao som do
chocalho e acordou com a passarada e fez questão de ficar longe da notícia, da
civilização.
O
Luiz apaixonado pela faceira Karolina com “K” que dançou numa Sala de Reboco,
viu quando apagaram o candeeiro e derramaram o gás, e mostrou ao Brasil como se
dança o Baião, o Xaxado e o Forró, mexendo o corpo e alma, fazendo velho ficar
moço. Não era de briga e nem de confusão, mesmo assim, acabou um samba, no
Forró de Mané Vito.
Luiz
Gonzaga cantou os mitos e as superstições nordestinas, nossas experiências com
o tempo e suas modificações climáticas. Ao ouvir o canto da Ema chamou sua
morena para acabar com seu medo, pois a Ema traz no meio do seu canto um bocado
de azar, principalmente se ela canta no tronco da Jurema, ao ouvir o Vim-vim
cantar sabia que alguém estava pra chegar, como chegou o amor no coração das
meninas num xote feito para elas.
Em
meados de 1950, foi chofer de táxi e descreve um Rio de Janeiro urbanizado,
modernizado e acolhedor, utilizando o mapa cartográfico da sua mente, faz o
trajeto de Mangaratiba ao Leblon, achou pouco e anos depois, em sonho, atravessou
o mundo e foi parar em Moscou para dançar um Pagode Russo, pois no Rio tudo
estava mudado na noite de São João.
O
que seria do Nordeste se não tivesse Luiz, que não respeitou Januário, que
dividiu a vida e o palco com seu filho Gonzaguinha, que cantou o Juazeiro, que
se tornou o Rei do Baião e ficou na memória do seu povo.
Em
2012, ano do centenário de Gonzagão, seu forró não é mais o mesmo. O ritmo que
se tornou por ele conhecido, em nada se parece com sua forma original. Nem o
forró, nem o baião e nem as noites de São João no seu saudoso Sertão. Tudo está
modificado, porque tudo muda sobre a terra.
Obrigada,
Luiz! Eterno Rei do Baião e Cantador do Sertão.
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