Embora não pareça, ou nos passou despercebido, o compositor Chico Buarque
de Hollanda cantou e recantou o nordeste brasileiro. Seu primeiro contato com
nossa região foi quando musicou a peça “Morte e Vida Severina” de João Cabral
de Melo Neto, território, até então, completamente desconhecido por ele, fato
que levou o artista, em começo de carreira, a pesquisar o lugar.
Defensor das causas sociais, grande observador das cidades, um verdadeiro
flâuner, Chico acompanhou de perto o desenvolvimento acelerado dos grandes
centros, exatamente, na época do “milagre econômico brasileiro”. Em São Paulo onde ele acompanhou a demolição
da antiga capital do café e a substituição imediata de novas e modernas
construções, viu o operário “Pedro Pedreiro” esperar e pegar o trem no subúrbio
paulistano com destino ao mundo do trabalho pesado, e subir a construção como
se fosse máquina, erguer paredes mágicas, sentar para descansar como se fosse
um príncipe, comer feijão com arroz como se fosse o máximo, e tropeçar no céu
como se fosse um bêbado, embriagado de trabalho, de cimento e de lágrimas, tropeçar
no céu dos seus sonhos nunca realizados, porque nunca chegou a ser nada, o
máximo que conseguiu ser foi sempre o “como se fosse” e nunca foi, e acaba
morrendo como um estorvo, atrapalhando o tráfego, o público e o sábado.
Ao
pegar carona na “Caravana Holiday de Bye, Bye Brazil,” Chico Buarque se manda
de trenó pra Rua do Sol Maceió, pega uma doença em Ilhéus, e com as bênçãos do
seu Orixá acha bauxita no Ceará. E segue por um nordeste mudado, urbanizado e
televisionado dos meados da década de 1970. Depois imagina ser uma violeira
nordestina que sonhou desde menina no Rio ir morar, passa por Sergipe,
Pernambuco, Paulo Afonso, Fernando de Noronha e o Sertão do Ceará, mesmo
enfrentando muita tormenta chega enfim em Ipanema onde finca residência, sem
vontade de voltar.
Em
“Para Todos” surge um Chico neto de pernambucano e trineto de baiano que exalta
o pernambucano Luiz Gonzaga, os baianos Dorival Caymmi, Gil, Caetano, Bethania,
Gal e João Gilberto, e o paraibano Jackson do Pandeiro, revelando a
miscigenação brasileira dentro do próprio país, não importando a naturalidade,
mas sim, a genialidade, pois, o artista pode ser paulista, pernambucano,
cearense ou baiano, na verdade, ele é um cidadão do mundo que “vai na estrada
há muitos anos é artista brasileiro”.
Fortaleza, 08 de junho de 2012.
Cristina Couto.
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