Dona Eliete - 15 anos |
Minha mãe não morreu e nunca morrerá para mim, porque se fez verbo e
espírito na imaginação e na lembrança que guardo da sua eternidade, da sua afirmação humanitária e da sua decisão de viver a despeito de qualquer tempestade.
Franca, desassombrada e serena, mas sempre afetiva e amorosa diante de
cada um de nós, Maria Eliete de Macedo é um nome como jamais existiu outra
igual, razão pela qual eu a louvo e venero como se ela fosse a minha fundação e a minha raiz essencial.
Minha mãe conhecia e sabia distinguir os limites da claridade e da luz e sempre estava preparada para o exercício do ato de servir. Jamais desamparou o meu pai e sempre nos mostrou o caminho da nossa redenção.
Firme e lutadora durante todo o tempo em que viveu, em Lavras da
Mangabeira, nossa terra de berço, minha mãe fez-se também uma expressão de cidadã que nunca recuou diante da impostura do poder.
Em defesa dos seus e das suas convicções de cidadã e de mulher,
envolveu-se, inclusive, em lutas armadas; enfrentou as vilanias do Poder Judiciário e demarcou, com a sua palavra, decididamente forte e aguerrida, o seu espaço de ação
no campo político e social.
Ferrenha opositora do mandonismo político que sempre imperou em nossa
terra, dizia-se, inclusive, na velha Princesa do Salgado, que Dona Eliete Macedo era mãe dos oprimidos e dos que não podiam falar ou se opor à tirania das instituições.
Viveu quarenta e seis anos a minha mãe, pois tendo nascido no município
de Lavras, aos 20 de fevereiro de 1929, veio a falecer em Fortaleza, aos 10 de
outubro de 1975.
É na sua memória que me apego para meditar ou para pedir a Deus a união
de todos os seus descendentes, porque amo aos meus irmãos e sobrinhos como ela sempre nos amou. Esse,
com certeza, o desafio maior que enfrento: manter a unidade de todos,
auscultando a sua intervenção.
Mas sempre que a invoco ela vem e faz, sem ser observada, a cura das feridas
que às vezes estão a rebentar, que às vezes insultam a sua santidade e a sua excelsa ternura de mulher.
Deixou um vazio imenso em minha vida assim que se foi para os braços de
Deus, mas depois que retornou em forma de luz e de espírito, instalou-se definitivamente em minha solidão, ensinando-me a viver segundo a minha natureza.
Sinto-a como se ela estivesse permanentemente cuidando de mim; sinto-a
como se ela estivesse guiando os meus passos, como se ela fosse a reencarnação da minha vida, como se ela fosse a luz que sempre me leva para a frente.
Dona Eliete Macedo, minha mãe querida, minha deusa e minha soberana,
você não sabe o quanto eu te amo e te venero até a exaustão, e o quanto eu a
vejo a percebo a cada jato de luz que deus vai derramando em minha trajetória.
A eternidade e o desejo e tudo o que Deus projetou no mundo de belo e grandioso talvez seja pouco para expressar o quanto a sua aura continua plena para mim.
Não sinto a sua falta; sinto, pelo contrário, a sua presença benfazeja, o espólio da sua benquerença, a redoma de ouro com que nos protege e abençoa.
Você é a terra-mãe e o sertão de sol de onde vim; e o que percebo, minha
mãe, é que a brisa do Salgado nos ungiu, é que Deus nos uniu pela crença em
sua redenção.
Minha mãe querida, minha doce mãe, sei que você está aqui comigo nesta
noite de luz, ao lado do meu pai, velando pela minha vida, cuidando da minha imperfeição e dirigindo os meus passos em busca de Nossa Senhora e de Jesus.
Fortaleza, 2/11/2010.
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